Milhares de pessoas saíram na segunda-feira à rua em várias cidades da Venezuela para protestar contra a declaração de vitória de Nicolás Maduro nas eleições presidenciais de domingo, com 51% dos votos, pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), a máxima autoridade do país latino-americano, controlada pelo regime chavista. Foi detido um político da oposição já na terça-feira.
Em cidades como Caracas, os manifestantes envolveram-se em confrontos com as forças de segurança, que dispararam gás lacrimogéneo e ergueram barreiras nas ruas para os dispersar. O El País diz que as autoridades, apoiadas por grupos civis armados chavistas, “reprimiram com dureza” os protestos na capital e o Governo fala em 23 polícias feridos.
Há pelo menos seis mortes confirmadas em seis estados, segundo detalha o jornal Folha de São Paulo. Entre as vítimas mortais estarão dois menores de idade – um rapaz de 15 anos e outro de 16.
Em Coro, capital do estado de Falcón, os manifestantes derrubaram uma estátua do ex-Presidente e figura histórica do movimento bolivariano Hugo Chávez – segundo o jornal espanhol, pelo menos cinco estátuas do antecessor de Maduro, noutros pontos do país, sofreram o mesmo destino.
Citada pela Reuters, a organização não-governamental de defesa dos direitos humanos Observatório Venezuelano de Conflitos Sociais registou 187 protestos contra Maduro em 20 estados da Venezuela. Para esta terça-feira está marcada uma marcha em Caracas, convocada pela oposição.
Alguns dos protestos que terminaram em violência tiveram como protagonistas pessoas de cara tapada, muitas delas montadas em motorizadas. Foram bloqueadas ruas e incendiados alguns veículos. Em quase todas as cidades viram-se, ainda assim, pessoas a caminhar pacificamente pelas ruas munidas de cartazes, bandeiras do país e tachos ou panelas, gritando “fraude” e outras palavras de ordem contra o Governo e o CNE.
“Lutarei pela democracia do meu país”, disse um manifestante à Reuters. Roubaram-nos a eleição. Temos de continuar a lutar pelos jovens.”
Político da oposição detido
O Foro Penal, outra ONG que presta apoio jurídico a pessoas detidas arbitrariamente no país, diz que foram detidas 132 pessoas na sequência dos protestos. Freddy Superlano, um dos líderes do partido de Juan Guaidó, foi detido pelas autoridades venezuelanas, indica o jornal Folha de São Paulo. A confirmação foi feita na rede social X depois pelo próprio Guaidó, que está exilado nos EUA. “A ditadura acaba de sequestrar o líder político Freddy Superlano. São responsáveis pela sua integridade”, escreveu.
O partido Voluntad Popular, a que pertence Superlano, deixou um “alerta nacional e internacional” nas redes sociais. “Devemos denunciar responsavelmente ao país que foi sequestrado o nosso coordenador político nacional Freddy Superlano”, pode ler-se na plataforma X.
Num comunicado ao país, a partir do palácio de Miraflores (sede presidencial), em Caracas, o próprio Nicolás Maduro falou em “dezenas” de detidos nas últimas horas, “apanhados em flagrante delito” e envolvidos em acções “criminosas e terroristas”.
O líder chavista garantiu que 80% dos detidos “têm antecedentes criminais” e que 90% são “armados e drogados”. “Confessam que estão a ser pagos [e que recebem] ordens precisas sobre onde atacar”, denunciou, sem oferecer muitos pormenores sobre esta acusação.
Por seu lado, Vladimir Padrino López, ministro da Defesa da Venezuela, disse, nesta terça-feira, que o país está a ser vítima de “uma tentativa de golpe de Estado”. “O Presidente Nicolás Maduro já se pôs em frente para o deter. E com ele, o povo e as instituições democráticas”, referiu numa declaração ao país através da televisão.
Os críticos de Maduro e do CNE, assim como a oposição ao Presidente socialista venezuelano, acusam o regime de “fraude” eleitoral. Numa conferência de imprensa, na segunda-feira, em que insistiu que o candidato Edmundo González Urrutia é o “novo Presidente eleito da Venezuela”, María Corina Machado, líder da oposição, disse que os 73% dos votos oficialmente contabilizados a que a sua equipa teve acesso apontavam para uma derrota clara de Maduro.
A oposição garante que González Urrutia juntou mais de 6,2 milhões de votos e que o homem que governa a Venezuela desde 2013 obteve pouco mais de 2,7 milhões. Estes números vão ao encontro das sondagens pré-eleitorais e à boca das urnas, que atribuíam a vitória ao candidato da Plataforma Unitária, com 65% do total de votos.
Dirigido por Elvis Amoroso – uma figura próxima de Maduro, que confirmou a sua vitória antes de divulgar os resultados finais –, o CNE diz, porém, que o resultado é “irreversível” (51,2% para o Presidente; 44,2% para González Urrutia). De acordo com o Governo, o atraso na divulgação dos resultados, na madrugada de segunda-feira, deveu-se a tentativas de “hacking” e a um “ataque terrorista” por políticos da oposição ao sistema de voto.
Países como a China, a Rússia, o Irão ou Cuba já deram os parabéns ao líder reeleito, mas os Estados Unidos, a União Europeia, o Reino Unido, Portugal, o Chile, a Colômbia, o Brasil, entre outros, exigiram ao CNE que divulgue as actas das mesas de voto e que proceda à contagem dos boletins e à divulgação dos resultados com toda a “transparência” e “imparcialidade”. Até lá, recusam reconhecer a vitória de Maduro.
Por cá, entre os partidos com representação parlamentar, apenas o PCP reconheceu o resultado anunciado pelo CNE da Venezuela.
Denunciando uma tentativa de “golpe”, liderado pela “extrema-direita”, Maduro ordenou a retirada dos membros das representações diplomáticas de Argentina, Chile, Costa Rica, Peru, Panamá, República Dominicana e Uruguai da Venezuela, países que o Governo chavista rotulou como “intervencionistas”.
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