A escritora Fernanda Sanches lançou um livro de memórias em homenagem à mãe. Damiana, minha Mãe livro nasce da dor, da saudade de uma filha, do luto e das lágrimas. A autora, nascida em São Tomé e Príncipe e residente na Europa há mais de trinta anos, retrata na obra uma realidade dos anos setenta em Portugal, vivida por emigrantes nos bairros mais pobres de Lisboa. Dentro deste tempo e espaço específicos, a autora procura retratar o espanto de quem chegava na altura e deparava-se com o clima cinzento, as expressões sérias das pessoas na rua e o preconceito em relação a certos hábitos e costumes africanos.
Um dos exemplos que recorda está relacionado com o uso do lenço na cabeça. Uma prática comum na indumentária de mulheres africanas, mas que era mal vista na altura em que chegou. “Foi um tempo em que as pessoas não eram alegres, olhavam-nos de lado pelo simples facto de usarmos o lenço na cabeça. Hoje, pode até ser moda mas naquela altura era mal visto”, recordou a autora.
Empurrada por estar e outras memórias, Fernanda comprou um novo portátil e ali as armazenou e editou com o conteúdo e enquadramento histórico que dão sustento à sua obra.
Damiana, Minha Mãe surge da necessidade de dar continuidade e transcendência à progenitora, após a sua morte. Numa conversa com a BANTUMEN, num parque no Cacém (Linha de Sintra, Portugal), descobrimos que, para Fernanda, a morte não é o fim, é “uma passagem para um lado invisível”.
e da conversa que tivemos com a escritora num parque no Cacém, percebemos que parte da ideia por trás da obra é de continuidade e transcendência após a morte. Para a autora, a morte não é o fim, mas sim “uma passagem para um lado invisível”. Na sua voz, nota-se um otimismo e esperança misturados com dor, mágoa e sofrimento, que Fernanda confirma serem os sentimentos que permeiam a obra.
“Ainda hoje é difícil para mim falar, mesmo passados cinco anos. Pensamos que o tempo cura tudo, que a mágoa e a dor acalmam, e até acalmam, mas a falta daquela pessoa continua. Lembrar da voz dela, do olhar meigo, daquele abraço que me dava quando chegava a casa, que parecia ser o último. Eu dizia: ‘Mãe, amanhã ainda volto.’ Ela apertava-me com força. A morte dela foi uma grande tristeza. Acho que não estava preparada. Acho que nenhum filho está. Decidi escrever o livro também em memória dela, uma homenagem à grande pessoa que ela foi, a uma grande amiga.”
A conversa fluiu e quisemos saber se o “bichinho” da escrita sempre esteve lá, latente, ou se foi a angústia que a levou a procurar a escrita como refúgio para lidar com a dor. Fernanda garante que o luto foi um motivo forte, mas sempre teve uma relação com a caneta e o papel, embora não o soubesse ou não o fizesse de forma a criar afinidade. Sorriu ao recordar uma carta escrita há mais de 20 anos. “Há um irmão meu que tem uma carta que escrevi, já tem 20 e tal anos, e ele diz: ‘Mana, cada vez que leio aquela carta, dá-me coragem’.”
A conversa passou por várias épocas, por várias histórias, mas o destino, quase sempre, foi o mesmo: o amor pela família. Com a passagem de testemunho, Fernanda transmite neste livro uma ideia de fé envolta numa narrativa leve e acessível, com episódios que prendem e giram em torno da coragem e motivação. A autora conta que é um livro que “vale a pena ler” e que vai muito além de histórias tristes.
A publicação foi feita de forma indepentente, pela plataforma de autopublicação Clube de Autores e está disponível para compra online na livraria online da BANTUMEN.
Fernanda Sanches é natural de São Tomé e Príncipe e veio para Portugal com dois anos de idade. Cresceu e estudou em Portugal, licenciando-se em Serviço Social pela Universidade Católica Portuguesa. Exerce a profissão de Assistente Social numa autarquia e este é o seu primeiro livro publicado.
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