Combinação rara explica tragédia no sul do Brasil

Isaac Fontana / EPA

Imagem aérea mostra as grandes inundações no Rio Grande do Sul no Brasil.

Um mar de lama, ruas engolidas pelas águas e o desespero marcam a vida das pessoas no Rio Grande do Sul, Estado no sul do Brasil. Mais de 1,4 milhões de pessoas foram afectadas pelas grandes inundações e vêm aí novas tempestades que podem piorar tudo.

Vivem-se dias muito complicados no Estado mais a sul do Brasil, na fronteira com a Argentina e o Uruguai. A catástrofe no Rio Grande do Sul matou, pelo menos, 95 pessoas, segundo os últimos dados oficiais, mas ainda há muitos desaparecidos e mais de 150 mil pessoas ficaram sem casa.

Num Estado com 497 municípios, 401 foram afectados, de maior ou menor forma, pelas inundações depois de chuvas intensas nos últimos dias.

Entretanto, luta-se também contra os saques e a violência que têm surgido no meio da catástrofe. O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, já anunciou um reforço do policiamento no Estado, com o destacamento de 400 agentes da Força Nacional.

Fake news e teorias da conspiração

Outro problema são as fake news que estão a ser disseminadas, perturbando ainda mais a vida dos gaúchos que residem no Estado. A Polícia Civil já abriu várias investigações devido à disseminação de notícias falsas.

E há ainda teorias da conspiração quanto às causas das fortes chuvas. Uma delas culpa “grupos de grande poder” pelas cheias, notando que pretendem provocar o medo e a confusão entre a população, aproveitando o momento vulnerável para implementar os seus interesses.

Há ainda outra teoria da conspiração que chegou a ser tendência nas buscas do Google e nos assuntos mais falados na rede social X, antigo Twitter, que aponta que o projecto científico norte-americano Haarp seria o causador das chuvas intensas no Rio Grande do Sul.

O Haarp estuda fenómenos físicos que se registam nas camadas superiores da atmosfera terrestre e já no passado, foi apontado como o “culpado” pelos terramotos no Haiti em 2020, e na Turquia em 2023.

Contudo, estas alegações não fazem qualquer sentido.

Combinação rara explica catástrofe no Rio Grande do Sul

Há uma combinação de três factores que se revelaram essenciais para a catástrofe que se está a registar no sul do Brasil, conforme especialistas consultados pela BBC News Brasil.

Por um lado, há uma corrente intensa de vento na região que leva à instabilidade no tempo. Mas, além disso, regista-se “uma corrente de humidade vinda da Amazónia” que potenciou “a intensidade da precipitação”, sublinha a dita publicação.

Ao mesmo tempo, há uma onda de calor na região central do país que “bloqueou a frente fria que está na região sul, impedindo-a de avançar e de se espalhar para outras localidades”, explica a meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia do Brasil, Dayse Moraes, em declarações à BBC Brasil.

“A junção desses factores faz com que essa instabilidade fique sobre o Estado, causando chuvas intensas e contínuas“, acrescenta Dayse Moraes.

Mas também é preciso acrescentar a influência do fenómeno El Niño que aquece o Oceano Pacífico, alimentando a instabilidade metereológica sobre o Estado.

Estamos, portanto, a falar de uma combinação de factores que é “considerada rara pelos especialistas”, como sublinha a BBC Brasil.

“Com a intensificação das mudanças climáticas globais, os eventos climáticos extremos serão mais frequentes e intercorrentes”, recorda também o professor e climatologista do Instituto de Geografia da Universidade Federal de Catalão, Rafael de Ávila Rodrigues, em declarações à publicação.

Quedas das Cataratas do Iguaçu três vezes maior

No meio da tragédia humana, a natureza continua a sua “jornada” gloriosa e as Cataratas do Iguaçu estão mais violentas do que nunca.

Depois das fortes chuvas, as famosas quedas de água estão três vezes maiores do que o habitual. O caudal passou de 1,5 a 3,6 milhões de litros de água por segundo, de acordo com dados dos media brasileiros.

Situação pode piorar com novas tempestades

As autoridades brasileiras já lançaram alertas para a possibilidade de a situação se complicar nas próximas horas, com a chegada de novas tempestades.

“previsão de chuvas intensas” para esta quarta-feira, alertou o Instituto Nacional de Meteorologia da região, indicando que “o volume total de chuva pode chegar a 50 milímetros (mm) em 24 horas, com ventos de até 60 km/hora”.

O governador do Rio Grande do Sul também avisou, pelas redes sociais, que “são esperadas cheias de grandes proporções” nos próximos dias.

As fortes chuvas que começaram há 10 dias deram uma pequena trégua na segunda-feira e na terça-feira, mas provocaram uma elevação sem precedentes no nível dos rios, causando enormes prejuízos em várias localidades e inundando grande parte de Porto Alegre, capital do Estado.

A calamidade afecta dois terços do total do Estado que sofre com a falta de alimentos, de remédios e de serviços básicos como electricidade e água.

As autoridades brasileiras estão a concentrar-se no resgate dos sobreviventes que ainda estão isolados, enquanto trabalham para garantir energia e água à população.

Entretanto, famosos como Madonna, Anitta e Neymar, entre outros, estão a contribuir com doações em dinheiro e em géneros, para ajudar as populações.

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