carretéis de memórias entre o Brasil e Portugal

Natural do Estado de Minas Gerais, a artista dedicou toda a sua vida ao design e produção de mobiliário e, aos 58 anos de idade decidiu abandonar esta atividade empresarial e dedicar-se, em exclusivo, ao gosto da mão e da mente, embarcando numa práxis artística que poderíamos posicionar no designado neopop e, sobretudo, na tendência crescente de afirmação de atividades, tipicamente da esfera do artesanato, como é o têxtil (mas também o são a cerâmica e o vidro), como novas tecnologias das artes plásticas e visuais.

Nas suas obras, Zélia Mendonça estabelece uma reflexão permanente sobre a condição da mulher, recorrendo à assemblagem para criar objetos tridimensionais que combinam a reutilização de dorsos ou sombrinhas, a título de exemplo, onde se agregam botões, alfinetes, crochet, fuxicos da tradição brasileira e outros objetos da memória da casa que dão vida a esculturas e/ou instalações que funcionam como simulacros da nossa memória coletiva.

Por estes dias, numa das suas estadias anuais em Portugal, a artista acolheu o desafio de pensar numa obra que reutiliza cerca de três toneladas de carretéis de linhas de costura, deitados fora pela indústria têxtil do Vale do Ave.

A obra enquadra-se na exposição coletiva “É bonita a festa, pá!”, integrada na programação da Fundação Bienal de Arte de Cerveira para o biénio 2023/24 em resposta à pergunta “És livre?”.

A canção que Chico Buarque (BR, 1944) escreveu no contexto do pós-25 de abril de 1974 é o mote inspirador desta exposição que reúne, única e exclusivamente, artistas naturais do Brasil e que, nos últimos anos, se mudaram para Portugal ou passaram a desenvolver uma parte considerável da sua atividade profissional por cá. Apresenta, também, um núcleo histórico com criadores que fizeram esse caminho nos anos que se seguiram à Revolução, num tempo em que o Brasil permanecia em ditadura.

Foi neste contexto que a artista Zélia Mendonça desenvolveu a instalação site specific [específica do local] “Foi bonita a Arte, pá!”, refletindo sobre a dicotomia entre a condição feminina e os conceitos da Liberdade, produzindo um espaço e tempo de pensamento que se expande das tradicionais formas das belas-artes e solicita aos públicos uma interação emancipada.

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