Cabo Verde como Farol de Progresso

Com uma população resiliente e talentosa, Cabo Verde apresenta um passado rico e um presente que lhe permite afirmar–se internacionalmente. Desde a Independência em 1975, tem alcançado feitos assinaláveis a nível económico, social e cultural.

Lembrando o escritor e político Corsino Fortes: “O segredo do sucesso dos cabo-verdianos é a ideia universalista que têm do Mundo.” Este sucesso pode ser aumenta do através de uma utilização eficiente dos recursos do país que ainda estão por explorar, contribuindo para a materialização do grande potencial de Cabo Verde. Para isso, são imprescindíveis lideranças corajosas, visionárias e consequentes, capazes de continuar a conduzir Cabo Verde rumo ao progresso. Proponho-me contribuir para esta discussão ao explorar a noção de liderança atlântica no país, destacando o seu impacto nas esferas económica e cultural, além de partilhar hipóteses que impulsionem o desenvolvimento nestas áreas.

Visão e estratégia

É referido com frequência que Cabo Verde pode explorar a sua localização como uma ponte entre continentes e 14 culturas para impulsionar o desenvolvi mento económico, promover a coesão social e fortalecer a herança cultural. Vou aprofundar essa discussão e ser concreto. Uma liderança atlântica em Cabo Verde pode abraçar uma visão de longo prazo que tire partido das suas principais forças, ganhando forma ao identificar-se criteriosamente o que distingue o país e, de seguida, ao pensar-se estrategicamente como se podem alavancar esses atributos. Creio que uma liderança atlântica pode incorporar princípios de desenvolvimento sus tentável, de aproveitamento dos recursos naturais e culturais e de fomento da cooperação regional. Para compreender essa abordagem, recorro a teorias de liderança e estratégia, adaptando-as ao contexto cabo-verdiano.

Teoria da liderança transformacional

Esta teoria destaca a importância de líderes que inspiram e motivam as suas equipas a alcançar objetivos comuns. Aplicando esta teoria a uma realidade nacional: a liderança transformacional procura envolver líderes que não apenas respondam às necessidades imediatas, mas também que promovam uma visão de longo prazo para o desenvolvimento do país. Esses líderes devem ser capazes de articular essa visão de um país próspero e culturalmente rico de um modo convincente e galvanizante, que inspire os concidadãos, os parceiros e os investidores internacionais. Como competências basilares, convém demonstra rem integridade, empatia e capacidade de comunicação eficaz para construir confiança e colaboração na sociedade.

Abordagem baseada em recursos e capacidades

Esta abordagem destaca a importância de identificar e aproveitar os recursos exclusivos de um país para alcançar vantagens competitivas. Um pequeno país insular como Cabo Verde ganha em ser pragmático e especializar-se em áreas onde possa gerar mais valor. Assim, evita ficar dependente ape nas de um setor, como ficou evidente quando a pandemia de COVID-19 afetou negativamente o turismo. Tal significa que é importante compreender as consequências de choques externos, pois a sua pequena economia aberta pode ficar vulnerável. Uma liderança atlântica pode identificar os recursos naturais, culturais e humanos que exis tem, estudar tendências internacionais e fazer projeções que permitam planificar e adaptar-se. Igualmente importante é o investimento na educação e capacitação da população, transformando-a em recursos humanos qualificados, inovadores e versáteis. O desafio é ter uma oferta educativa que responda às necessidades do mercado de trabalho, fomentando nos jovens um espírito empreendedor e criativo.

Estratégia de cooperação regional e internacional

Dada a interconectividade global, Cabo Verde pode reforçar a estratégia de cooperação bilateral e internacional. Com a primeira, pode aprofundar parcerias com os países vizinhos continentais mais próximos, como a Gâmbia, a Guiné-Bissau e o Senegal, aproveitando afinidades históricas, culturais e geográficas. Com a segunda, pode aprofundar o envolvimento em organizações regionais e internacionais para promover o comércio, investimentos e intercâmbio cultural, reforçando o esforço considerável que tem feito. Uma liderança atlântica pode procurar oportunidades de cooperação em projetos de desenvolvimento sustentável, como iniciativas de conservação ambiental, energias renováveis e turismo responsável. Assim, Cabo Verde pode beneficiar das competências e recursos de parceiros internacionais, enquanto contribui para o progresso global em áreas-chave. Um bom exemplo deste tipo de parceria é o projeto Bioesfera, que desenvolve as suas ações de conservação de espécies e ecossistemas em algumas ilhas do país.

Desenvolvimento económico

Cabo Verde possui um potencial eco nómico significativo, especialmente nos setores do Turismo, Pesca, Serviços Financeiros e Energias Renováveis. Uma liderança eficaz pode priorizar políticas que estimulem o crescimento nesses setores e que promovam a sustentabilidade ambiental e a inclusão social.

Deixo algumas hipóteses para discussão:

  • Economia azul: Os recursos do Atlântico permitem desenvolver: a Pesca Sustentável, através de regulamentações adequadas e apoio à modernização das frotas, a aquicultura; o Turismo Marítimo, investindo em infraestruturas como hotéis e resorts sustentáveis para fortalecer um Turismo de qualidade.
  • Hub logístico: A localização estratégica do país torna-o um potencial hub logístico para o comércio internacional. O investimento em infraestruturas portuárias e aeroportuárias pode impulsionar o setor e algumas áreas de atividades associadas, como o bunkering ou o acabamento/assemblagem de produtos.
  • Energias Renováveis: Cabo Verde possui um enorme potencial para a geração de energia renovável, principalmente solar e eólica. A apos ta em energias limpas pode garantir a independência energética do país e contribuir para a mitigação das mudanças climáticas, como no caso de sucesso de Monte Trigo, a primeira aldeia de Cabo Verde com energia 100% renovável.
  • Tecnologias de Informação e Comunicação: O país tem um ambiente propício para o desenvolvimento deste setor, com uma população jovem e qualificada e acesso à internet em crescimento. O investimento neste setor pode criar oportunidades de emprego e impulsionar a Economia, além de reter jovens com formação académica.

Desenvolvimento cultural

Uma liderança atlântica pode reforçar a importância da cultura como um desígnio nacional. Cabo Verde pode tornar-se um ator ainda mais ativo na diplomacia cultural, fazendo com que as pessoas de outros países conheçam os seus valores, tradições e instituições, garantindo um apoio aos objetivos económicos e políticos cabo-verdianos. Deixo algumas hipóteses para discussão:

  • Promoção cultural: O país possui uma cultura vibrante e a sua promoção pode impulsionar o turismo cultural e fortalecer a identidade cabo-verdiana. Em particular, seria interessante criar mais polos de difusão da cultura nacional no estrangeiro, à imagem do Centro Cultural de Cabo Verde em Lisboa.
  • Património cultural: Investimentos na preservação do património cultural, como restauro de edifícios históricos e promoção de festivais culturais, teriam impactos duradouros. Seria interessante ver como algumas ilhas, que não as do Sal e da Boa Vista, poderiam beneficiar com um aumento de turistas que visitam Cabo Verde não pelas praias, mas pelo vasto património material e imaterial.
  • Criatividade e inovação: O investimento nas artes, na cultura e na indústria criativa pode gerar oportunidades de emprego e desenvolvimento económico. Os artistas e artesãos podiam ser apoiados na comercialização dos seus produtos internacionalmente. O caso de sucesso na música podia ser replicado em outras áreas.
  • Valorização interna da cultura nacional: Esta ideia está relaciona da com a integração da educação cultural no currículo escolar. Pode passar pela criação de uma disciplina que fomente a importância da cultura nacional, destacando a literatura, música, dança, culinária e artesanato como atrativos únicos acarinhados e divulgados pelos jovens.

Cabo Verde tem todas as condições para ser um farol de progresso e desenvolvimento no horizonte atlântico. Com uma liderança atlântica comprometida com a valorização do capital cultural e humano, com a exploração sustentável dos recursos naturais e com o aprofundamento de uma economia moderna e competitiva, o país está prepara do para voos mais altos. Ao fortalecer os laços com países vizinhos e parceiros internacionais, pode tornar-se um centro de excelência e inovação em áreas-chave, como Turismo Sustentável, Energias Renováveis e Economia Criativa.

Uma liderança atlântica pode ser visionária e inclusiva, procurando oportunidades de colaboração e crescimento mútuo. Acredito que Cabo Verde poderá vir a servir como modelo inspirador para outros países na região do Atlântico e além desta, estando mais perto de cumprir todo o seu potencial para benefício dos seus cidadãos.

 

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