Antes, os dirigentes da UNITA, Bloco Democrático (BD) e projeto político PRA-JA Servir Angola, bem como Francisco Viana, membro da sociedade civil, já tinham sido impedidos de entregar a sua “comunicação sobre o país real”, no Tribunal Supremo.
À chegada ao 1.º de Maio (Largo da Independência), que tem no centro a estátua do primeiro Presidente de Angola, Agostinho Neto, Adalberto Costa Júnior, Filomeno Vieira Lopes, Abel Chivukuvuku e Francisco Viana encontraram um cordão policial e foram informados que não poderiam passar.
Visivelmente irritado, Francisco Viana, que foi militante do MPLA e é atualmente um dos coordenadores adjuntos da Frente Patriótica Unida, plataforma da oposição angolana, tentou argumentar com a polícia: “estamos a defender os vossos filhos, os vossos netos”, e gritou: “vamos estar assim mais 50 anos? Porquê? O que é que nos fizemos?”.
O dirigente e empresário apelou também aos “dirigentes de Portugal” para que “ajudem a combater a ditadura”.
“Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, você conseguiu andar aqui sozinho a pé, Presidente Celito, mas nós não podemos, porquê? Você circula em Angola e o angolano não circula e, mesmo assim, está a receber os representantes dos tiranos”, indignou-se, mostrando o seu cartão de deputado e questionando o porquê de ter sido barrado pela polícia.
“Disse que eu não ia passar e ponto final”, desabafou.
“Chegámos aqui e estamos impedidos de circular no 1.º de maio”, lamentou o presidente do BD, Filomeno Vieira Lopes.
“Até na estrada, é ridículo”, ironizou Abel Chivukuvuku, do PRA-JA, enquanto a comitiva procurava circular mais afastada do centro do largo.
A presença dos líderes da Frente Patriótica Unida (FPU) foi atraindo populares, incluindo dois jovens com um cartaz onde se lia: “Por uma Angola com democracia, justiça, autarquias, sem fome”.
“Estamos a dialogar com o povo na rua. De acordo com a nossa Constituição, é normal que um cidadão fale com outro cidadão”, disse à Lusa Filomeno Viera Lopes, salientando que “nenhum cidadão deve ser impedido de circular”.
“Liberdade política significa poder falar com os nossos cidadãos, expor as nossas ideias, isto mostra que não estamos num contexto de liberdade política no nosso país”, frisou o líder do BD, considerando o impedimento “triste e vergonhoso” e pedindo “o contributo de todos “para vencer essas barreiras”.
“Nós estamos a viver num estado policial, militarizado, estamos numa autocracia, isto é a prova que estamos num estado repressivo, temos de ter coragem de nos opor a isso”, exortou Filomeno Vieira Lopes.
O coordenador da FPU e presidente da UNITA, Adalberto Costa Júnior, seguiu por uma rua adjacente ao largo e aproveitou para contactar com populares em quiosques, floristas e junto de empresas, onde foi saudado por algumas dezenas de jovens a quem distribuiu panfletos.
Adalberto Costa Júnior entregou também folhetos aos motoqueiros e automobilistas que pararam para receber a “comunicação” das mãos do líder da UNITA, que acedeu também a algumas ‘selfies’ com transeuntes, enquanto exibia os dizeres da sua t-shirt, o “uniforme” com que hoje os líderes da oposição saíram à rua: “Pelas autarquias/Por uma Angola sem fome”.
A “comunicação sobre o país real” aborda a “subversão do Estado de Direito” em Angola, os comportamentos “desviantes” do regime, as violações de liberdades, direitos e garantias, o “sequestro” da comunicação social e a crise económica, entre outros aspetos, exigindo reformas no país.
O documento da FPU foi apresentado na quarta-feira, em conferência de imprensa, tendo os responsáveis do bloco anunciado que iriam remetê-lo hoje às instituições estatais.
A caravana composta pelos líderes da FPU entregou, por uma janela, a primeira cópia do documento ao Protocolo da Presidência da República de Angola, tendo sido depois impedida por elementos da guarda presidencial de fazer chegar o documento ao Supremo.
O mesmo documento foi igualmente entregue na sede da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), onde a caravana da oposição foi recebida por um sacerdote.
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