O que começou por ser uma excursão privada à ilha de São Tomé e Príncipe transformou a viagem de cruzeiro de oito passageiros — incluindo uma grávida e um paraplégico — numa corrida contra o tempo para tentar alcançar o navio Norwegian Dawn, que os deixou em terra.
Ao desembarcarem na ilha, na quarta-feira passada, o grupo de turistas australianos e americanos decidiu ir conhecer São Tomé. A visita acabou por demorar mais do que o previsto apesar de o guia local lhes garantir que iriam chegar a tempo. Não só não chegaram como ainda encontraram uma passageira de 80 anos que tinha precisado de receber tratamento médico de emergência e ficara sozinha no hospital.
Começou então uma aventura que os levaria a seis países, a gastar mais de cinco mil dólares e a perder seis dias para tentarem embarcar de novo.
Quando, na quarta-feira , dia 27 de março, chegaram ao porto depois da hora prevista para o embarque, o navio ainda não tinha zarpado. Assim, a guarda costeira local conseguiu transportar os turistas até ao cruzeiro, ainda atracado, que tinha como destino final Barcelona. Mas o capitão do navio, ainda atracado, decidiu partir, porque os tripulantes não cumpriram “os termos e condições” de regresso ao navio a horas.
Numa primeira tentativa o capitão do porto tentou contactar o navio “mas o capitão recusou a chamada“, relata Jay Campbell, um norte-americano americano de grupo, citado pelo The Guardian. A única forma de contacto disponível era o envio de e-mail para a empresa de navegação. A essas tentativas de contacto, alega a empresa, também não houve resposta.
A única ação do capitão do Norwegian Dawn foi devolver às autoridades portuárias os passaportes dos tripulantes, deixando-os sem acesso aos seus medicamentos e cartões bancários, que ficaram a bordo. Apenas Jay e Jill tinham consigo um cartão de crédito, o que permitiu ao grupo tentar chegar pelos seus próprios meios ao navio. “O capitão poderia ter tomado a decisão fácil de fazer voltar um dos barcos de apoio, pegar em nós, transportar-nos em segurança e seguir viagem”, lamentou Jay Campbell.
Deixados em terra, os passageiros partiram para o Gâmbia num navio na tentativa de alcançarem o cruzeiro este domingo. As marés baixas fizeram com que o Norwegian Dawn não parasse e só conseguiram encontrá-lo no Senegal, esta terça-feira, a sua última paragem na África Ocidental, depois de percorrerem seis países. Para chegar a esse destino, os tripulantes tiveram de apanhar um ferry e fazer uma viagem de quatro horas.
“Não temos dinheiro, os nossos cartões de crédito não são aceites”, disse Violeta Sanders ao programa Sunrise da Seven, citada pela mesma fonte. “Foi a pior experiência das nossas vidas sermos abandonados assim, num país estranho, sem saber falar a língua”.
Uma “situação muito infeliz” foi como descreveu o acontecimento o porta-voz da Norwegian Cruise Lines, frisando que a responsabilidade de regressar, uma hora antes do embarque, era dos passageiros. No mesmo sentido o advogado de viagens de Sydney, Anthony Cordato disse que “os termos e condições tornam essencial o regresso ao navio a horas”.
“Do ponto de vista do consumidor, é duro, mas do ponto de vista do navio, vai atrasar o cruzeiro durante uma ou duas horas porque os passageiros demoraram a entrar a bordo? Vai incomodar 1.000 passageiros por causa de quatro?”, concluiu Cordato.
Em comunicado, a empresa volta a reiterar o atraso dos tripulantes: “Na tarde de 27 de março de 2024, enquanto o navio se encontrava em São Tomé e Príncipe, uma nação insular africana, oito passageiros que se encontravam na ilha numa excursão privada não organizada por nós perderam o último barco de regresso ao navio, não cumprindo assim a hora de regresso de todos a bordo, às 15h locais”.
Os avisos foram vários. O “regresso ao navio à hora publicada, que é amplamente comunicada através do intercomunicador do navio, na comunicação impressa diária e afixada imediatamente antes da saída do navio”.
Face ao atraso, o navio devolveu os passaportes ao grupo, pois estes “são responsáveis por quaisquer preparativos de viagem necessários para voltar a juntar-se ao navio no próximo porto de escala disponível, de acordo com o protocolo”.
Com todos os passageiros já a bordo, o cruzeiro partiu de Dakar para Barcelona, aonde deve chegar no dia 10 de abril, finalizando assim uma viagem de 21 dias que partiu da Cidade do Cabo, na África do Sul, a 10 de março.
“Apesar da série de eventos infelizes fora do nosso controlo, iremos reembolsar estes oito hóspedes pelos custos de viagem de Banjur, na Gâmbia, para Dakar, no Senegal”, afirmou a Norwegian Cruise Lines.
Texto editado por Dulce Neto
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