Os segredos dos centenários saudáveis e dos supercentenários do Brasil

Aos 106 anos, José Bernardo, de Minas Gerais, trabalha em um supermercado guardando carrinhos e cestas. Aparentemente, é a pessoa mais idosa com carteira registrada no Brasil. Um excelente funcionário, segundo o dono do estabelecimento. De onde vem tanta disposição?

A irmã teresiana Inah Canabarro, que vive em um convento em Porto Alegre, é uma das super centenárias que estudamos. Nesta Páscoa, contou-nos que adora chocolates, detesta bananas e que dirigia uma banda de música com a qual viajou por todos os países da América Latina. Com alguma dificuldade, ela consegue escrever e se preocupa com a grafia correta dos nomes. Perguntou se Mayana se escrevia com i ou com y. Como chegou a essa idade com uma cabeça tão boa?

Além de entrevistar essas pessoas e suas famílias para conhecer sua trajetória e estilo de vida, nós recolhemos amostras de sangue desses centenários para fazer o sequenciamento do seu genoma.

Uma particularidade do estudo em andamento na USP, e que provavelmente o torna único no mundo, é que fazemos a derivação de diversos tipos de linhagens celulares a partir das amostras biológicas de sangue. Isto é, conseguimos reprogramar as células do sangue (eritroblastos) em células-tronco embrionárias e a partir daí transformá-las em células musculares, ósseas ou nervosas, entre outras, para estudar as suas especificidades.

As amostras de Milton, por exemplo, deram origem a um organoide celular (um minicérebro cultivado no laboratório) para aprofundar o estudo dos neurônios dele. Outras equipes em colaboração conosco estudarão essas linhagens celulares para avaliar as suas mitocôndrias (uma espécie de usina de energia da célula) e a reparação do DNA.

A pesquisa brasileira

Começamos a coletar as amostras de centenários pouco antes da pandemia. Com a chegada da covid-19, conseguimos estudar um grupo de 100 pessoas com mais de 90 anos que se curaram da infecção provocada pelo vírus SARS-CoV-2 ou foram expostas e permaneceram assintomáticos. Dentre elas, havia 20 centenários (como Laura e Milton), incluindo três pessoas acima de 110 anos.

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