Filme gravado na Amazónia estreia-se em Portugal para mostrar o quotidiano indígena – Vida

Para a sua tese de doutoramento, que foi entregue à Universidade de Manchester, no Reino Unido, Verónica Castro esteve, entre 2017 e 2018, a viver numa aldeia da comunidade Huni Kuin (Kaxinawá), nas margens do rio Jordão, no Estado do Acre, a recolher imagens e informações sobre a etnia, que se consolidaram num primeiro documentário, indicou a antropóloga.

Posteriormente, nasceu a ideia do filme, “fruto da pesquisa viva, que foi evoluindo e tornou-se compartilhada”, indicou Verónica Castro, referindo-se ao pajé (chefe espiritual) aprendiz, Kawá Huni Kuin, que veio consigo para a Europa.

“O filme apresentado na universidade, no âmbito da tese de doutoramento, é diferente do que vai estrear dia 18 [de julho] nos cinemas portugueses, porque o que vai ser apresentado está mais completo. Inclui mais material de pesquisa do conteúdo que foi recolhido ao longo dos meses passados a viver com a comunidade e tem o apoio da produtora e distribuidora portuguesa Cedro Plátano”, declarou.

Durante a sua estada na Amazónia, Kuwá disse-lhe que teve uma visão em que se imaginava a conhecer a Europa, referiu.

Kawá pediu à antropóloga que o levasse consigo para Manchester para conhecer essa realidade, sendo que, em troca, à comunidade vai trazer o conhecimento que adquirir no estrangeiro, nomeadamente a língua inglesa, explicou Kawá, que frisou que é o primeiro do seu povo a saber falar inglês.

“Na língua Hantxa Kuin, falada pelo povo Huni Kuin, Yupumá remete-se à ideia de se realizar algo pela primeira vez e a maneira como as pessoas se preparam para o sucesso dessa ação, atividade ou experiência, que é posta em prática desde criança”, declarou Kawá, que frisou que a antropóloga compreendeu bem esse conceito, que rege a vida desta comunidade.

Segundo explicou Kawá, Huni Kuin significa “Povo Verdadeiro”, ou “Povo Fumaça”, pois são conhecidos por usarem o fogo para cozinhar e para se aquecerem.

“O nosso objetivo com o filme é despertar um novo olhar face à vida quotidiana na Amazónia e, depois, com esse novo olhar, esperamos que este conteúdo desperte uma nova maneira de pensar sobre todas as comunidades indígenas e qual a sua relação com a natureza, mas também os problemas climáticos, e o impacto que têm na nutrição, o racismo sistémico e o genocídio”, indicou Verónica Castro.

Para si, a floresta é importante “para tudo e todos” e no filme há um olhar específico para a cultura Huni Kuin, que está interligada com a natureza.

“Somos todos dependentes da floresta e dos animais”, acrescentou.

Afirmação que vai ao encontro da perspetiva de Kawá, que explicou que para o seu povo a floresta é extremamente importante.

“A floresta é onde estão os espíritos dos ancestrais, é onde estão os animais para caçar, onde estão as plantas para uso medicinal, a madeira para se construírem casas”, indicou.

“Enquanto a floresta for viva, nós também estaremos vivos, temos de estar conectados com a natureza, mas o clima está a mudar [referindo-se às alteração climáticas]”, concluiu Kawá.

O filme Yupumá, de 70 minutos, estreia-se em Portugal em 18 de julho.

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