Redação Telesur – A fronteira entre a Colômbia e a Venezuela, historicamente palco de complexas dinâmicas políticas e criminosas, voltou a ser o foco da atenção internacional. Desta vez, o centro da notícia foi uma série de ameaças de assassinato contra o presidente venezuelano Nicolás Maduro, tornadas públicas no dia 5 de julho de 2024 através das redes sociais das Forças de Autodefesa Conquistadoras da Serra Nevada (ACSN), um grupo paramilitar com raízes profundas na região norte da Colômbia.
A ACSN, anteriormente conhecida como “Los Pachencas”, colocou sobre a mesa uma situação que vai além de simples ameaças. Numa reviravolta inesperada, o grupo afirma ter sido contactado por sectores da extrema direita venezuelana para desestabilizar o governo da Venezuela. Este fato soma-se às queixas do próprio presidente Nicolás Maduro sobre os planos da oposição de introduzir mil paramilitares da Colômbia, a fim de gerar o caos na véspera da eleição presidencial do próximo dia 28 de julho.
O fato mais recente desta situação ocorreu no dia 6 de julho de 2024, quando a ACSN emitiu um novo comunicado onde solicitou um “diálogo direto” com as altas autoridades da Colômbia e da Venezuela. Segundo declararam, o objetivo é que estas autoridades “conheçam em primeira mão a situação que surgiu com grupos do país vizinho que procuraram a nossa influência para alterar o sistema democrático”. Além disso, a ACSN se ofereceu para fornecer informações mais detalhadas que pudessem contribuir para a investigação dos eventos.
A resposta dos governos da Colômbia e da Venezuela a esta situação será crucial, uma vez que a comunidade internacional está observando atentamente a evolução do cenário eleitoral.
Antecedentes das operações terroristas contra a Venezuela
O caso da Fazenda Daktari em 2004 marca um precedente significativo nas tentativas de desestabilização contra a Venezuela. A prisão de 153 paramilitares colombianos pela Diretoria de Inteligência Policial da Venezuela (Disip) revelou um plano de assassinato contra o então presidente da Venezuela, comandante Hugo Chávez. Este incidente, liderado pelo ex-presidente colombiano Álvaro Uribe, tinha como objetivo restabelecer o breve governo de Carmona Estanga, evidenciando a profunda ligação entre os paramilitares colombianos e os setores políticos golpistas venezuelanos.
O caso do grupo paramilitar Los Rastrojos e sua associação com Juan Guaidó em 2019 demonstra a continuidade dessas dinâmicas. O aparecimento de fotografias de Guaidó com líderes deste grupo criminoso durante o concerto “Venezuela Live Aid” expôs as alianças entre setores da oposição venezuelana e grupos criminosos colombianos. Los Rastrojos, conhecidos por sua participação no tráfico de drogas, extorsão, sequestro e tráfico de pessoas, foram instrumentalizados por setores reacionários contra o governo de Nicolás Maduro.
O caso mais recente envolve os Conquistadores de Autodefesa da Serra Nevada (ACSN), herdeiros do legado criminoso de “Los Pachencas” no maciço montanhoso de Santa Marta, na Colômbia. Fundada por Jesús María Aguirre, vulgo “Chucho Mercancía”, a ACSN controlava as rotas de cocaína de Barranquilla a Riohacha. A morte de Aguirre em 2019 desencadeou uma guerra pelo controle do tráfico de drogas, realçando a volatilidade destas estruturas criminosas.
A localização estratégica da região facilitou as operações criminosas transnacionais, como a “Operação Gedeón”, uma tentativa de assassinato contra o presidente Nicolás Maduro que envolveu mercenários treinados na Colômbia pelas forças especiais dos Estados Unidos. Naquela ocasião, segundo declarações do embaixador venezuelano na ONU, Samuel Moncada, em 2020, foram “Los Pachencas” os envolvidos como parte de “uma complexa rede de conexões entre grupos paramilitares, serviços de inteligência colombianos e operações militares dos EUA”.
O papel de Salvatore Mancuso, antigo chefe paramilitar, acrescenta outra dose de complexidade à situação. Seu retorno à Colômbia em fevereiro de 2024, após cumprir pena por tráfico de drogas nos Estados Unidos, e sua nomeação como gestor da paz pelo Governo de Gustavo Petro, levantam questões sobre o futuro das negociações com grupos ilegais como as Forças de Autodefesa da Sierra Nevada, que pediu ao próprio Mancuso que gerisse os diálogos de paz com o governo progressista. Mancuso, conhecido pelo seu envolvimento no transporte de toneladas de cocaína para os Estados Unidos, tem agora a tarefa de contribuir para o desarmamento de grupos ilegais na Colômbia.
A política de Paz Total teve o efeito inesperado de encorajar os grupos armados na região a aumentarem os seus interesses “políticos”. Procuram ser reconhecidos como atores políticos legítimos, apesar das organizações de direitos humanos salientarem que muitos destes grupos são constituídos por antigos soldados que simplesmente mudam de lado dependendo das circunstâncias.
O padre jesuíta Javier Giraldo, no entanto, tem perspectiva crítica sobre esta situação. Segundo ele, embora grupos como a ACSN reivindiquem objetivos políticos de mudança social, o que realmente se observa é um desejo de manter uma economia baseada no tráfico de drogas. As guerras nas periferias – argumenta Giraldo – não buscam melhorar as condições de vida das comunidades locais, mas sim manter e disputar as rotas do tráfico de drogas.
Neste contexto, a recente denúncia pública da ACSN, distanciando-se dos planos desestabilizadores na Venezuela, pode ser interpretada como uma tentativa de ganhar legitimidade junto ao governo colombiano. Ao declarar que não se prestará a interferir na política externa colombiana, a ACSN parece estar à procura de um espaço na mesa de negociações para a Paz Total.
No entanto, a verdadeira natureza e motivações destes grupos permanecem uma questão de debate. Serão atores políticos legítimos ou simplesmente organizações criminosas que procuram uma rota de fuga legal? A resposta para esta pergunta terá implicações profundas para a segurança regional e a estabilidade política colombiana.
As recentes ameaças contra o presidente Nicolás Maduro, candidato do Grande Pólo Patriótico Simón Bolívar nas próximas eleições presidenciais de 28 de julho, são apenas a ponta do iceberg de um problema profundamente enraizado na região fronteiriça.
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