Pelo menos 98 pessoas morreram afogadas, no domingo, ao largo da Ilha de Moçambique, depois de a embarcação sobrelotada em que seguiam ter naufragado. Em pânico por causa de um alegado surto de cólera que mata em poucos minutos, 130 pessoas, sobretudo mulheres e crianças, enchiam o barco pesqueiro que, no máximo, teria capacidade para transportar cem pessoas, de acordo com as autoridades locais.
O número de vítimas mortais foi actualizado nesta segunda-feira por Rosa Chauque, porta-voz da Polícia da República de Moçambique, em declarações à agência Lusa: “Neste momento, temos um total de 98 óbitos, 13 sobreviventes e os restantes estão desaparecidos. Era uma embarcação com cerca de 130 pessoas.”
“Trata-se de uma embarcação vocacionada para a pesca e não para [transporte de] pessoas, que vinha de Lunga para a Ilha de Moçambique”, contou, por seu lado, ao jornal moçambicano O País, o administrador da Ilha de Moçambique, Silvino Nauaito. “De acordo com informações que temos em nossa posse, o que acontece é que as pessoas estão a sair de Lunga de forma atabalhoada, alegadamente porque há uma epidemia de diarreias lá e as pessoas ficam com sintomas por apenas três minutos e morrem”, explicou. “Em pouco tempo morreram entre dez e 12 pessoas e alguns falam de 15. Não sabemos quantas são, o que sabemos é que foram procurar essa embarcação de pesca para pedir que os levassem até à ilha de Moçambique, numa tentativa de fugir para estarem mais próximos do hospital.”
Moçambique está a braços com um surto de cólera desde Outubro do ano passado. Segundo o último relatório do Ministério da Saúde moçambicano, até 31 de Março foram registados 14.712 casos que resultaram na morte de 32 pessoas. Curiosamente, na extensa lista de casos registados não figura até ao final de Março nenhum em Lunga, embora haja casos registados noutros lugares da província de Nampula, como Erati, Mecuburi, Nacaroa, Meconta, Angoche e na cidade de Nampula. O pânico que levou as pessoas fugir terá sido alimentado por informação falsa difundida pelas redes sociais.
Cinco dos sobreviventes foram atendidos no centro de saúde, três receberam alta, enquanto os outros dois foram mantidos em observação, ainda segundo a informação do administrador da Ilha de Moçambique, primeira capital moçambicana situada no Norte do país, na província de Nampula.
Segundo Rosa Chauque, “continuam a decorrer as buscas” para tentar encontrar mais algum sobrevivente ou os restantes mortos. Diz a Lusa que os mortos, entre eles famílias inteiras, estão a ser enterrados rapidamente por falta de condições para conservação dos corpos.
Este é já um dos maiores acidentes do género na história de Moçambique, um país que se habituou aos naufrágios nos últimos anos, sobretudo devido à sobrelotação das embarcações – entre 2016 e 2019, foram, segundo o Governo moçambicano, mais de 360, que causaram cerca de 120 mortes e cerca de uma centena de desaparecidos.
Em 2018, o então ministro dos Transportes e Comunicações, Carlos Mesquita, exigiu melhor fiscalização em relação à lotação das embarcações, habilitação das tripulações, tendo ordenado que fossem retiradas de circulação as embarcações que não estivessem em condições para o transporte seguro de pessoas e bens.
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