A cantora, compositora e sambista Teresa Cristina fez um show neste domingo (19) em Caracas no encerramento do festival Viva Venezuela. Em conversa com o Brasil de Fato após o evento, ela disse que precisamos “quebrar as barreiras” com os outros países da América do Sul e ter uma maior integração cultural com a Venezuela.
De acordo com ela, o Brasil fica “isolado” do resto do continente e não pode ter a língua como barreira para as trocas entre povos de diferentes países latinoamericanos.
“A língua isola muito a gente. Por isso é importante rodar a América do Sul. A gente tá num continente muito visado pelas grandes corporações e somos o único país que fala português. Eu não vejo no Brasil um interesse para quebrar essa barreira da língua. Muitas vezes o colégio empurra a gente pra ter o inglês, que é uma língua mais difícil de aprender, e vai usar menos que o espanhol pela proximidade que você tem com outros países”, disse Teresa Cristina ao Brasil de Fato.
O show deste domingo foi realizado no centro cultural La Casona, antiga residência oficial dos presidentes do país. O evento foi parte do festival Viva Venezuela, promovido pelo governo. Além de artistas de toda a América Latina, o evento contou com a participação também de músicos e dançarinos palestinos. Durante 10 dias, três estados receberam artistas: Caracas, La Guaira e Miranda.
A viagem da sambista brasileira à Caracas foi intermediada pela empresária do sambista Zeca Pagodinho. Em contato com o embaixador da Venezuela no Brasil, Manuel Vadell, a empresária Leninha Brandão perguntou se Teresa Cristina gostaria de participar do evento. Ela aceitou e, pela agilidade das conversas, a brasileira não conseguiu trazer uma banda e veio acompanhada do músico Carlinhos 7 Cordas.
Essa foi a segunda passagem de Teresa Cristina pela Venezuela. Em 2015, a artista se apresentou no teatro Teresa Carraño, no centro de Caracas. Ela lembra que, naquela época, a viagem para a Venezuela gerou uma tensão entre brasileiros e venezuelanos.
“Foi um show cheio. Tinham muitas professoras que, na hora da minha apresentação, falaram: ‘você está em um país comunista, socialista na América do Sul’. Isso foi na época do golpe no Brasil e tinha gente querendo me matar. No Brasil tinha gente criticando e na Venezuela vi pessoas falando ‘aqui não é socialista’, com uma expressão de bastante raiva porque a direita é raivosa em qualquer lugar”, relembra.
Dessa vez, Teresa disse que conseguiu andar mais pela cidade de Caracas e se surpreendeu com a forma com que os venezuelanos homenageiam os libertadores da América.
“Eu me emocionei muito ao ver a Venezuela. As ruas da Venezuela são um livro aberto. Eles não deixam o povo esquecer o que aconteceu. No Brasil a gente tem assassino com nome de rua, praça, avenida, ponte. E aqui tudo leva a luta pela liberdade. As estátuas não são de facínoras, bandeirantes que mataram índios. São dos libertadores da América, Simon Bolivar. E nas praças, nos muros, é impossível não saber que aqui é um país que luta pela liberdade”, afirmou.
O ministro da cultura da Venezuela, Ernesto Villegas Poljak, também esteve no show da brasileira. Segundo ele, a presença de Teresa Cristina nesta segunda passagem por Caracas pode ser “o primeiro passo” para estreitar a relação cultural entre Brasil e Venezuela. De acordo com ele, é possível reforçar essa relação a partir dos embaixadores que estão nos dois países.
“Nós temos uma relação entre irmãos. Não somos distantes geograficamente e nem culturalmente. Somos muito identificados com a diversidade cultural brasileira. Tenho certeza que com a embaixadora brasileira Glivânia Maria de Oliveira em Caracas e o embaixador venezuelano Manuel Vadell em Brasília temos aliados comprometidos com o fortalecimento das nossas relações culturais e que isso vai se repetir frequentemente”, afirmou ao Brasil de Fato.
Edição: Rodrigo Durão Coelho
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