Aproximam-se mais umas eleições europeias. Estes são tempos interessantes para observarmos o que se passa na União Europeia (UE) através da perspectiva portuguesa. De que outra forma poderíamos debater a Europa ou o mundo? Não existe outro momento, tendo em conta que tivemos umas recentes eleições legislativas onde praticamente não se discutiu o mundo para lá das nossas fronteiras. Se não discutirmos agora, com uma guerra dentro da Europa e conflitos a nascerem em várias regiões, quando iremos discutir? Parece-me que a oportunidade é agora nestas Europeias de 9 de junho.
No entanto, não fique o leitor esperançoso de ver grandes análises geopolíticas, geoestratégicas ou de economia internacional, porque Portugal não discute a UE, nós discutimos apenas o que Portugal pode retirar da UE. Prova disso é a confusão geral da maioria dos candidatos ao Parlamento Europeu, que pouco discute acerca do papel da UE no mundo, apenas o papel de Portugal na UE, principalmente de como usar os fundos europeus para mais financiamentos internos, ou de que forma podem formalizar novos apoios europeus para o desenvolvimento do país. Devo dizer que é uma confusão porque não é esse o principal papel de um deputado europeu. As funções de um deputado europeu são legislar, supervisionar e orçamentar dentro do âmbito da UE e não de qualquer país em especifico da UE. O papel do deputado europeu é pensar a Europa no mundo, defendê-la e criar condições para este grupo prosperar.
Atualmente, com pressões nunca antes vistas nos últimos 80 anos, de fricções entre potências que criam dificuldades acrescidas ao continente europeu, é necessário mais do que nunca pensar a Europa e de que forma se pode movimentar nesta nova realidade, desviando-se de erros do passado. A UE não é um multibanco, mas é assim que as entidades portuguesas a consideram, por mais que a maioria não admita. Sem o financiamento europeu, Portugal seria um país (mais) pobre. Os nossos desvaneios económicos e decisões erráticas apenas são possíveis com os fundos europeus, que neste momento, mais que uma benção, são uma maldição. O problema não são os fundos em si, mas o funcionamento das instituições portuguesas, que pelas suas particulardades, fazem com que a maioria destes financiamentos sejam desaproveitados, pouco eficientes, e em alguns casos, corrompidos.
Mais do que esticar a mão novamente para pedir, Portugal deve acrescentar ideias e propostas às instituições europeias. A Europa precisa de reformas, e não é apenas na economia, onde continua a perder terreno para EUA e China. Também na área da defesa, onde os investimentos foram praticamente inexistentes na maioria dos países europeus, fruto de um modelo de pensamento criado à sombra da proteção da NATO e principalmente dos EUA. Neste momento, esse modelo de pensamento é obsoleto, sendo a modernização e investimento nas forças armadas muito necessários para manter a paz na Europa. O atual presidente francês, Macron, parece estar bastante ciente disso, referindo e bem, que a Europa é mortal. Neste momento, e sem reformas dignas de menção, essa morte está mais próxima. Penso que a História vai ser mais justa para Macron do que as pessoas da atualidade, sendo um lider como poucos na atualidade europeia. A UE não está em morte iminente, mas esse risco está mais próximo, por um conjunto de decisões geoestratégicas que foram tomadas ao longo das últimas décadas, e que, mais uma vez, foi Macron quem alertou seriamente para esse facto. Os acordos energéticos com a Russia, desconhecendo a realidade da Rússia, a dependência excessiva da defesa dos EUA, e a quase completa deslocação industrial e produtiva para a China, fizeram com que a UE neste momento ficasse com menos opções e que a necessidade de reformas fosse mais urgente e dramática do que seria se tivessem sido tomadas outras decisões no passado. É por isto, um momento único e de muita responsabilidade na história da UE.
É essa responsabilidade que não estou a identificar nesta campanha para as europeias, o que infelizmente, me retira alguma esperança de Portugal poder acrescentar algo de relevante aos desafios internacionais que se aproximam. Os decisores políticos atuais são incapazes de pensar em Portugal sem ser no imediato, como seriam capazes de ter algum tipo de pensamento estratégico a longo prazo para a UE? Não têm. Apenas estão a pensar de que forma é que as instituições europeias podem financiar mais uma vez os seus esquemas e as suas necessidades imediatas. Esta prespectiva mais que negativa é realista. Apenas dessa forma podemos resolver os problemas, exigindo mais dos decisores políticos.
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