Um em cada quatro jovens da região dos Açores, entre os 18 e os 24 anos, está em “situação de abandono escolar precoce”. Segundo Fernando Diogo, sociólogo, professor associado da Universidade dos Açores e investigador do Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais, aquele é o segundo valor mais elevado da União Europeia, logo a seguir ao da Guiana Francesa, na América do Sul.
Comparativamente ao continente, o abandono escolar é mais predominante nas regiões autónomas, particularmente nos Açores. Porquê? Fernando Diogo avança com duas respostas: uma factual e outra hipotética. “A resposta factual é: ninguém sabe. Absolutamente ninguém sabe”, repete o sociólogo. “Não sabe o governo regional, não sabem os cientistas, não sabem os sindicatos, não sabem os parceiros sociais, ninguém sabe.”
E a outra? A resposta hipotética é esta: o abandono escolar precoce mais resistente a desaparecer situa-se nas categorias sociais mais baixas. No fundo, há uma relação íntima, como diz o sociólogo, entre pobreza e abandono escolar.
Há registos positivos em Portugal continental, na região Norte, e níveis de abandono mais elevados, quer no Alentejo, quer no Algarve. No primeiro caso, o Norte foi capaz de inverter níveis elevados de abandono nos anos 90 e tem sido a região que mais tem progredido, aproximando-se dos valores da Área Metropolitana de Lisboa, a região do país que regista níveis menos elevados.
Tal como existem diferenças entre regiões, ou entre continente e ilhas, também existem diferenças entre géneros. É nas classes sociais mais baixas que a “diferença entre rapazes e raparigas é maior” e é nas “classes mais altas que essa diferença é mais pequena, a ponto de ser quase invisível”, explica Fernando Diogo.
Comentando o relatório do Tribunal de Contas, divulgado nesta terça-feira, sobre abandono escolar, o sociólogo sublinha que os diversos estudos internacionais, nomeadamente o PISA, “mostram, de facto, que há uma evolução muito positiva ao longo dos últimos 30 anos e que tem atravessado vários governos”. Fernando Diogo acrescenta que o “balanço que se tem de fazer sobre o sistema educativo em Portugal é que ele tem permitido melhorar bastante os níveis de escolaridade daqueles que lá estão”. “E isso vê-se”, continua, “quer nos indicadores nacionais, quer nas comparações internacionais”. O sociólogo considera que se trata de um “sucesso tremendo”, salientando que o mesmo não é uniforme.
O abandono escolar precoce tem vindo a aumentar ligeiramente, após anos de descida contínua, e uma das possíveis explicações pode radicar no aumento do número de imigrantes no sistema de ensino, com algumas discrepâncias. Como explica Fernando Diogo, “há comunidades imigrantes que têm um desempenho escolar acima da média dos alunos nacionais, mas há outras que têm níveis de desempenho muito abaixo da média dos nacionais”.
Embora longe dos valores da década de 90 do século passado, quando o trabalho infantil justificava por si só o abandono escolar, num quadro de desvalorização da escola e de valorização do trabalho, a taxa actual de abandono situa-se, ainda assim, nos 8,9%, diz. Mas convém acrescentar que desde a cimeira da União Europeia, em Lisboa, em 2000, o indicador de abandono passou a incidir sobre os indivíduos que deixam o sistema escolar entre os 18 e os 24 anos sem completar, pelo menos, o 12.º ano. Estes valores actuais, todavia, estão “abaixo das metas europeias”.
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