Prometi que neste artigo iria trazer mais passos da caminhada pelo arquipélago de São Tomé e Príncipe. E, assim, fiz este guia de bolso, sobretudo para responder às imensas perguntas que recebi via Instagram (@sandra___figueiredo).
– O itinerário aéreo: voos diretos operados pela TAP são os melhores (com duas refeições) e valor agradável;
– Levar dinheiro em numerário (em euro – câmbio ou levantamento direto na ATM só nas ilhas) e não vale a pena tentar munir-se só de cartões de débito ou crédito, pois é raro uma loja ou estabelecimento aceitar cartão;
– Aceitam sempre euro e há máquinas ATM em vários locais do arquipélago, ao contrário do que se ‘informa’;
– Não confundir o paraíso das praias de São Tomé com a maravilha oceânica das praias do Príncipe;
– Se planeia ir a São Tomé, nunca deixe de reservar o voo para Príncipe também (pela STP Airways) – cerca de 250 euros por pessoa (ida e volta) e duração real de 30 minutos;
– Não pense ir de navio por ser muito económico, pois não é um cruzeiro no Nilo, nem até Zanzibar – demora quase um dia (menos claro) e há naufrágios constantes. É esse navio que diariamente transporta os bens alimentares de São Tomé para o Príncipe;
– Há dois ou mais voos (dois é mais certo) a operar por dia para fazer a ligação entre São Tomé e Príncipe (quem dera que este aeroporto fosse internacional!);
– Bagagem permitida para este voo doméstico: até 15kgs. Portanto eu levei mais para São Tomé (na saída de Lisboa), contudo sabia que iria ter menos peso quando embarcasse para a ilha do Príncipe;
– Valor absurdo: a única coisa que me deixou perplexa foi o custo de vida. Qualquer ida ao supermercado ou mesmo ao restaurante é avultada. Por exemplo, a manteiga custa 4 euros, Cerelac custa 20 euros, desodorizante custa 4 ou 5 euros, água 1,5lt (de marca branca) custa 2,40, sumos igual à água. Mas quando refiro marca branca, estou a querer dizer que todos os produtos provêm diretamente de Portugal e a marca branca é dos supermercados portugueses que bem conhecemos. Os ovos são impensáveis quanto ao preço. Ali deve viver a galinha dos ovos de ouro. Tinha de reportar para que se preparem para gastar o triplo ou mais do que pensam;
– Levar brinquedos e não doces para o norte de São Tomé onde as escolas e instituições são mais carenciadas; e para o Príncipe, mas cuidado com o peso na mala. Aconselho mesmo porque a vibração positiva do mundo aumenta cada vez mais se o fizermos. Em vários países já o fiz, claro. Mas ali (e similarmente no Camboja e Tanzânia) senti de forma diferente;
– Nunca beber água que não seja engarrafada – é problema na certa;
– Levar repelente, mas não é preciso vacinas; todavia o tome a medicação profilática contra a Malária. Informe-se com o seu médico de família (ou privado);
– Levar roupas confortáveis e nunca vestir fato de banho ou andar sem camisola na rua, sobretudo no Príncipe;
– Como se deslocar dentro das ilhas: normalmente aconselham sempre alugar jipes (tração às 4 rodas). Eu nunca o faria pois é comum carros acidentados e pessoas apeadas nas estradas;
– Para circular especificamente no centro urbano de São Tomé tem a novidade do “tricar” – amarelo e super engraçado. Aluga mal chega ao aeroporto de São Tomé. Igual procedimento para o jipe;
– Preferi pedir transfer para todos os lugares que visitei e que levava na agenda: mas, fica mais caro sem dúvida e implica diferentes motoristas para quem não conhecer de antemão, por isso aqui deixo os melhores contactos de motoristas e guias turísticos muito simpáticos e honestos nos preços e no abraço: Beyquilson (São Tomé) e Yodi (Príncipe). O Yodi gere uma série de carros e caminhos como ninguém. O Bey ficou um amigo entre tantas idas e voltas, porque ele era quem nos ‘guiava’ enquanto fazia o booking do melhor motorista/preço – ou seja, o Bey ia connosco além do motorista;
– Por falar em pessoas que nos guiam por este paraíso e pelas suas idiossincrasias, temos também o Youtuber santomense (com mais de 50.000 subscritores) Elício Martins. Conhecemo-lo já em Lisboa, porque ele veio para cá no final de dezembro e tivemos o prazer de fazer esta amizade. Os seus vídeos no Youtube são muito elucidativos e bonitos, onde se espelha num sorriso só toda a humildade das pessoas locais;
– Regatear sempre preços para as viagens de carro;
– Hotéis no Príncipe: esta questão surpreenderá quem prefira viagens tropicais (que é o caso) mas estatelados em resorts de luxo. É que não os há, exceto um e que, de todo, não recomendo: Sundy Resort (cerca de 1200/noite) porque a praia é a menos bonita da ilha, na minha opinião e não precisamos ficar alojados em villas quando o luxo está bem lá fora e nem é naquela praia. Mas também estive lá – como iria poder relatar se não experienciasse vários lugares e acomodações?
– Não há secadores de cabelo nos hotéis ou pousadas;
– 90% de humidade, 30 graus de calor (dia e noite). Abençoado tempo para uma viagem deste tipo. Chuvas são recorrentes, mas tivemos sorte pois esteve sempre sol.
Porque não recomendo resorts? Atenção, eu aprecio resorts também, mas em países da América Central, no Sul de África ou no Médio Oriente. Aqui, em São Tomé e Príncipe, sugiro mesmo que fiquem em estâncias simples ou pequenos hotéis (também não há grandes hotéis e os de ‘maior’ dimensão são muito velhos) imersos na natureza plena. Em São Tomé fiquei no Hotel Central, apenas porque precisava de atender à conferência naquela zona. Hotel simples, mas muito limpo e com muita alegria nos rostos. No Príncipe, fiquei na Pousadinha Mar Ave Ilha (e que ‘maravilha’), 69 euros/noite. Pequeno-almoço à parte, 7 euros diários. Mal cheguei ao aeroporto do Príncipe, pedi ao motorista (já tratado no dia anterior com o Yodi que se deslocou propositadamente a São Tomé para tratar tudo connosco – exímio, de energia grande) que nos levasse às principais praias.
No final do dia (que termina bem cedo com o sol a ir-se embora às 17h e a continuar a sua caminhada pelo globo), fomos para a pousadinha. Só o caminho é uma experiência: a terra vermelha, ora amarela, o acenar de todas as pessoas pelas estradas e ruas, os macacos calmos, os cães sonolentos, a lavoura cumprida, os jardins de infância coloridos, os sorrisos das crianças à minha janela. E os buracos constantes – sim, a parte menos boa (a mim, não me causa confusão) está nas estradas do arquipélago, sobretudo na ilha do Príncipe. Esta pousadinha fica no Terreiro Velho, muito perto da cascata mais bonita da ilha. E de um pico gigante que me pareceu o Pão de Açúcar do Rio de Janeiro, sendo aqui mais bonito que no Brasil. A pousada é de uma extrema higiene, de uma decoração tão bem conseguida com simplicidade e de janelas abertas para a floresta. Estou a escrever e não consigo parar de me arrepiar de felicidade por ter tido o privilégio de tomar banhos longos de janela aberta dentro da floresta. Não é bungalow, não é hotel, podem ver pela minha galeria de fotos ou no IG. É algo que eu queria experienciar há muito tempo e nunca conseguira. Cheguei ali e senti: isto sim é o bom humor de Deus. É onde Deus mora, talvez.
Mais, a pousadinha, sem o saber, é de gestão de um professor português (que leciona na Universidade Saint-Joseph de Macau) e empreendedor fantástico. E que, por acaso (será por acaso mesmo, neste lugar onde vive o criador do universo?), estava a passar uns dias na pousada precisamente na data em que fomos. E descobrimos que temos em comum duas pessoas muito valiosas em amizade, assim como somos ambos professores e ainda por cima também atuamos na área da Comunicação Social.
Houve mais coincidências que vivem no meu peito.
Houve música em algumas noites que me arrepiavam a alma.
Houve tertúlias da vida com outros hóspedes do mundo.
Houve estrelas como nunca vi tão brilhantes.
Houve amor no abraço à cozinheira Bety que chorava de luto, infelizmente.
Houve a melhor comida que a minha alma precisava e que a Bety cozinhava na terra ou no fogão.
Houve pés na terra vermelha a qualquer hora noturna.
Houve banhos de ‘balde’ porque a luz falta várias vezes e ninguém gera stress, embora eu tivesse apreciado um gerador que me gerasse menos baldes.
Houve tanto carinho sempre que entrava no fim do dia e dizia ‘Olá Marlene!’, a senhora que administra as principais tarefas da pousada.
Houve caminhada telúrica com o Alcides que me segurou quando quase desfaleci na subida íngreme para a cascata tão desejada.
Houve beijocas às crianças.
Houve risos românticos (o meu Diogo, o príncipe dos príncipes – no Príncipe – e que apelidaram de “azulinho” – significa a nota mais valiosa do país).
Houve tartarugas a nadar naturalmente nas praias não vigiadas.
Houve as melhores praias do mundo.
E, sobre as praias: devo às melhores praias do globo um novo artigo e não um parágrafo, por isso, até ao próximo artigo. Leve, leve.
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