Sem rede de telemóvel, wi-fi e com poucos (ou nenhuns) vizinhos. Para quem procura um local completamente isolado, a Roça Atalaia, na ilha do Príncipe, é um paraíso. Ali há “tempo para não se fazer nada”, para admirar a extraordinária envolvente ou mergulhar nas piscinas naturais a poucos metros de distância.
O casal português Estrela Matilde (38 anos) e Fernando Camacho (39 anos) sabe disso melhor do que ninguém. Afinal, foram eles que construíram este “cantinho especial”, a casa onde se refugiavam quando precisavam fugir da vida mais agitada da cidade de Santo António.
Já viram baleias a partir do quintal, acordaram com o som dos pássaros, adormeceram a ouvir o mar — e até se casaram lá. Agora, de regresso a Portugal após 12 anos a viver em São Tomé e Príncipe, não se queriam desfazer do lugar onde criaram tantas memórias, inclusive com o filho Joaquim, de três anos.
Decidiram transformá-lo num alojamento “completamente off the grid”. É a primeira casa totalmente sustentável da ilha, com energia solar e reaproveitamento das águas da chuva, e tem uma vista “de tirar o fôlego”. O espaço vai receber os primeiros hóspedes já no dia 1 de março, mas continuará a ser sempre o refúgio da família quando regressarem ao país para visitarem os amigos que deixaram para trás.
“Vivi 11 anos na ilha do Príncipe e regressei há cerca de uma semana. Durante todo esse tempo, andei a desenvolver uma série de projetos ambientes e criei a Fundação Príncipe, uma organização não governamental focada na preservação”, conta à NiT a bióloga, que já venceu o Whitley Award, um dos prémios mais relevantes do mundo na área da conservação da natureza.
Nascida e criada em Sines, Estrela mudou-se para a ilha quando recebeu um e-mail de um professor com uma oferta irresistível: precisavam de uma assistente ambiental no Bom Bom Island Resort durante seis meses. Aceitou o desafio, sem saber que esse meio ano se tornaria, afinal, em mais de uma década.
Acabou por conhecer o marido, Fernando Camacho, que trabalha na área da hotelaria. Nasceram no mesmo País, mas o caminho dos dois só se cruzou a milhares de quilómetros de distância de Portugal.
Há cerca de três anos, foram pais pela primeira vez e sabiam que, mais tarde ou mais cedo, teriam que dizer adeus à ilha que tanto adoram. “Quisemos que crescesse ali, mas não há condições, principalmente em termos escolares e de saúde, pelo que começámos a planear o nosso regresso”, explica.
Em 2022, abriram as portas à Villa Saudade, um alojamento sustentável em Porto Côvo, já a pensar no futuro. Estrela, contudo, não queria sair do Príncipe sem arranjar alguém que a substituísse na Fundação Príncipe, de preferência um natural da ilha.
A tarefa não foi fácil, mas lá conseguiu encontrar “um sucessor”. “Para mim é um sonho tornado realidade, sentir que já não precisam de mim. A organização precisava de um líder local e consegui vir embora com o sentimento de dever cumprido. Sinto-me feliz e a realizada”, diz.
Agora que está de regresso a Portugal, o objetivo é continuar a trabalhar na área da conservação, mas já tem outros projetos em mente: um dos sonhos é abrir uma “escola de floresta” no litoral alentejano. “O meu filho é um bicho do mato, um pássaro que quer estar sempre na rua, e sinto que as escolas aqui confinam muito as crianças”, confessa.
A Roça Atalaia
Quando Estrela e Fernando começaram a namorar, decidiram criar um projeto juntos e compraram um terreno numa zona isolada do Parque Natural do Príncipe, onde não existe “absolutamente nada nem ninguém por perto”. Só havia mato, mas a ideia era construir uma pequena casa de madeira. Tudo isto há cerca de oito anos.
“Tornou-se o nosso refúgio, fazíamos pizzas no forno, estávamos em contacto com a natureza, passávamos os dias a ler”, recorda. Com a pandemia, decidiram fazer uma reabilitação ao espaço, que acabou por demorar algum tempo.
Quando terminaram, a data do regresso a Portugal já estava próxima. “Não fazia sentido ter gasto tanto dinheiro para agora estar a vender, por isso, decidimos que o melhor seria partilhá-la com outras pessoas”, reforça.
A Roça Atalaia fica a cerca de 25 minutos de carro da cidade, mas é importante ressaltar que as estradas podem ser bastante precárias, já que o caminho é “literalmente, no meio do mato”. Apenas veículos todo-o-terreno se podem aventurar até lá. É um alojamento “para aventureiros” que querem estar em “conexão extrema com a natureza”.
O alojamento é um open space, com uma cama de casal, um sofá em L, uma cozinha equipada com um pequeno fogão a gás, frigorífico e congelador, e uma casa de banho. Acomoda perfeitamente um casal e uma ou duas crianças.
As refeições podem ser um desafio, mas o casal pensou em tudo. Para oferecer uma experiência inesquecível aos hóspedes, criou uma parceria com um chef da comunidade mais perto, que estará disponível para oferecer serviços de refeição. É, também, uma forma de contribuírem para a economia circular da região. Com marcação prévia, o chef Varela poderá ir até à Atalaia e cozinhar no espaço exterior, seja ao pequeno-almoço, almoço ou jantar.
Durante o dia, os hóspedes podem aproveitar para “mergulhar no paraíso”, já que pode descer a pé até à praia mais próxima. “Não são praias de areia, mas quando a maré está vazia há piscinas naturais maravilhosas”, destaca. Outra sugestão é fazer trilhos a pé pela zona, que tem uma paisagem incrível.
O alojamento disponibiliza ainda telescópio, binóculos e um guia para ajudar na identificação de aves. Além disso, há vários livros e uma coleção de discos de vinil, bem como um tapete de ioga, pesos e outros equipamentos para fazer exercício.
No espaço exterior, além das vistas para a praia, pode descansar nas camas de rede e descansar ao som do mar.
Apesar de estarem completamente isolados, não falta segurança. Isto porque existe uma equipa de vigilância na zona em permanência, fora do terreno, mas relativamente perto para o ajudar caso precise. A casa tem um apito disponível para pedir ajuda em caso de emergência.
Os preços da estadia rondam os 80€ por noite. As reservas podem ser feitas através do Booking.
Como lá chegar
Primeiro terá de voar até à São Tomé e Príncipe. Se partir de Lisboa, encontra bilhetes de ida e volta desde 745€. Ao chegar, terá que apanhar novamente um avião para a ilha do Príncipe com a companhia STP Airways. O preço do bilhete varia entre os 260€ e os 270€.
A viagem do aeroporto até à cidade de Santo António demora cerca de 15 minutos. A deslocação até à Roça Atalaia dura mais 20 minutos.
Carregue na galeria para conhecer este refúgio isolado na ilha do Príncipe.
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