O tribunal de Celle (norte da Alemanha) considerou Bai Lowe culpado de “crimes contra a humanidade, assassínio e tentativa de assassínio num total de três casos”, no final do primeiro julgamento na Alemanha sobre os abusos cometidos durante o regime de Yahya Jammeh (1994-2017).
Enquanto motorista dos “Junglers”, um grupo paramilitar encarregado de intimidar ou eliminar qualquer forma de oposição, Lowe participou em assassinatos no seu país entre 2003 e 2006, incluindo o do correspondente da agência noticiosa France-Presse (AFP) Deyda Hydara, morto a tiro a 16 de dezembro de 2004.
O filho do jornalista, Baba Hydara, que esteve presente em Celle, qualificou a decisão de “importante” para as vítimas da ditadura, mas disse à AFP que este é “apenas o início”.
Deyda Hydara foi chefe de redação e cofundador do jornal independente The Point e correspondente da AFP durante mais de 30 anos.
O pai de quatro filhos foi também correspondente da organização não-governamental (ONG) Repórteres Sem Fronteiras (RSF) e era considerado um dos jornalistas mais antigos deste pequeno Estado da África Ocidental.
A decisão de hoje “é a primeira a reconhecer que foram cometidos crimes contra a humanidade por Yahya Jammeh”, afirmou o advogado de Hydara, Patrick Kroker.??????
O tribunal fez um pedido, sem resposta, às autoridades da Gâmbia para que ajudassem no processo, declarou o juiz Ralf Günther.
No entanto, o tribunal conseguiu reunir provas suficientes contra o gambiano, incluindo fotografias que o mostram em uniforme militar e uma entrevista de rádio em 2013, na qual ele deu um relato detalhado dos crimes e da sua execução.
Mais tarde, alegou que tinha mentido durante essa entrevista e que só queria fazer com que os seus concidadãos compreendessem a crueldade do regime de Yahya Jammeh.
Refugiado na Alemanha desde 2012, foi detido em Hanôver em março de 2021.
O seu julgamento foi possível graças à jurisdição universal da Alemanha sobre certos crimes graves ao abrigo do direito internacional, que lhe permite julgar suspeitos no seu território, independentemente da sua nacionalidade ou do local onde os alegados crimes foram cometidos.
Além do assassinato de Hydara, foi também condenado pelo assassinato de um antigo soldado gambiano, Dawda Nyassi. Foi igualmente acusado pela tentativa de assassinato de um advogado, Ousman Sillah, e de duas pessoas que trabalhavam para o jornal cofundado por Hydara, Ida Jagne e Nian Sarang Jobe.
“O verdadeiro cérebro, o ditador Yahya Jammeh, e todos os seus cúmplices devem agora responder pelos seus crimes”, declarou o diretor de advocacia dos RSF, Antoine Bernard.
Outros processos em curso fora da Gâmbia incluem o de Ousman Sonko, antigo ministro do Interior, que está a ser julgado na Suíça desde 2017 por crimes contra a humanidade.
O Governo da Gâmbia anunciou, em fevereiro, que estava a trabalhar com a Organização dos Estados da África Ocidental para criar um tribunal para julgar os crimes cometidos durante os cerca de 22 anos de Governo do antigo ditador.
A tarefa afigura-se difícil, pois o antigo Presidente vive no exílio na Guiné Equatorial, um país com o qual a Gâmbia não tem acordo de extradição.
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