Nove confrontos para ficar de olho nas Eliminatórias Africanas da Copa de 2026

O aumento no número de seleções na Copa do Mundo impactou os sistemas de disputa das Eliminatórias em vários continentes. Na África, as seleções locais podem até agradecer. Antes, o sistema do qualificatório africano era o mais acirrado, com apenas cinco vagas e tantas vezes confrontos diretos na fase decisiva. Muitas equipes fortes ficavam pelo caminho. A partir de agora, o número de classificados quase dobrou. Serão nove representantes africanos passando diretamente ao Mundial de 2026. Também haverá uma sobrevida através da repescagem, embora com só um lugar na fase intercontinental.

As Eliminatórias se organizarão em nove grupos de seis seleções. Os hexagonais terão turno e returno, com o vencedor garantindo vaga na Copa do Mundo. Já quatro segundos colocados de melhor pontuação jogarão uma fase extra, que indicará o representante africano na repescagem intercontinental. Será um Final Four, com semifinais e final em jogos únicos.

Tal ampliação significa que o grupo de cabeças de chave aumentou. Não serão mais necessários os embates entre potências, como o Senegal x Egito e o Camarões x Argélia que ocorreram nas últimas Eliminatórias. Isso não quer dizer, porém, que a vida dos gigantes africanos será mais fácil. O qualificatório para o Mundial de 2026 ainda promete grandes partidas, mesmo sem tamanha crueldade para os craques locais. Abaixo, destacamos nove confrontos (um por grupo) que poderão ser decisivos às vagas na Copa. A tendência é que alguns times sofram menos, como Senegal e Marrocos. Mas não que será tranquilo para todos, incluindo duelos como Egito x Burkina Faso e Mali x Gana. As chances de classificados inéditos são até maiores agora.

Os grupos das Eliminatórias Africanas

  • Grupo A: Egito, Burkina Faso, Guiné-Bissau, Serra Leoa, Etiópia, Djibuti
  • Grupo B: Senegal, RD Congo, Mauritânia, Togo, Sudão, Sudão do Sul
  • Grupo C: Nigéria, África do Sul, Benin, Zimbábue, Ruanda, Lesoto
  • Grupo D: Camarões, Cabo Verde, Angola, Líbia, Eswatini, Ilhas Maurício
  • Grupo E: Marrocos, Zâmbia, Congo, Tanzânia, Níger, Eritreia
  • Grupo F: Costa do Marfim, Gabão, Quênia, Gâmbia, Burundi, Seicheles
  • Grupo G: Argélia, Guiné, Uganda, Moçambique, Botsuana, Somália
  • Grupo H: Tunísia, Guiné Equatorial, Namíbia, Malauí, Libéria, São Tomé e Príncipe
  • Grupo I: Mali, Gana, Madagascar, República Centro-Africana, Comores, Chade

Egito x Burkina Faso, Grupo A

O Egito terá pela frente como principal desafio uma das seleções mais duras do Pote 2. Burkina Faso possui campanhas dignas nas últimas quatro edições das Eliminatórias, chegando a fazer jogo duro contra a Argélia na fase decisiva de 2014. Também é uma equipe que impõe respeito por seu histórico na Copa Africana de Nações, com três aparições nas semifinais desde 2013 e um vice no mesmo período. Os Garanhões possuem bons nomes em seu elenco, com a liderança de Edmond Tapsoba na defesa, até por seu destaque recente no Bayer Leverkusen. Já o ataque continua protagonizado por Bertrand Traoré, mas com as ascensões de Abdoul Tapsoba e Dango Ouattara, dois jovens talentos. O Egito, sob as ordens do experimentado Rui Vitória, conta com um elenco respeitável. Mohamed Salah é a grande estrela, com as boas companhias de Omar Marmoush e Mostafa Mohamed no ataque. Também faz muita diferença a base moldada entre Al Ahly e Zamalek, que fornece atletas acostumados às competições internacionais. Resta aos Faraós se reerguerem da decepção que foi a ausência na Copa de 2022, com a queda na fase decisiva do qualificatório contra o algoz Senegal. Menção honrosa ainda a Guiné-Bissau, num longo trabalho sob as ordens de Baciro Candé, que adicionou novos talentos nos últimos tempos – como o atacante Franculino Djú, revelação do Midtjylland.

Sadio Mané olha para a taça da CAN após a conquista de Senegal (CHARLY TRIBALLEAU/AFP via Getty Images)

Senegal x RD Congo, Grupo B

Senegal é uma das seleções africanas mais fortes dos últimos ciclos, algo que não se perde rumo ao Mundial de 2026. Os Leões de Teranga apostam na continuidade do trabalho de Aliou Cissé, um treinador de dimensões históricas sobretudo após conquistar a inédita Copa Africana de 2022. Já em campo, há nomes conhecidos em todos os setores: Édouard Mendy, Kalidou Koulibaly, Abdou Diallo, Idrissa Gana Gueye, Sadio Mané e Ismaïla Sarr são os principais deles. Há também jovens que despontam, com Pape Matar Sarr no meio-campo, além de Iliman Ndiaye e Nicolas Jackson no ataque. Um entrave é a queda de nível de vários protagonistas, com os maiores astros se mudando ao Campeonato Saudita. Isso pode auxiliar a República Democrática do Congo a surpreender, depois de se classificar à CAN 2023. Os Leopardos reúnem jogadores de experiência na Europa, como Chancel Mbemba, Samuel Moutoussamy, Théo Bongonda, Cédric Bakambu, Silas Katompa Mvumpa, Simon Banza e Yoane Wissa. Os congoleses chegaram até a fase final das Eliminatórias da Copa de 2022, derrotados por Marrocos, e fortaleceram o elenco desde então, com jogadores de origem no país que optaram pela nacionalidade.

Nigéria x África do Sul, Grupo C

No papel, a Nigéria tem uma das melhores seleções da África. Porém, nem sempre o time corresponde em campo e vem de um ciclo problemático, com campanha fraca na CAN 2022 e queda na fase final das Eliminatórias. Entre as constantes trocas de técnicos, o português José Peseiro chegou, mas sem ter se respaldado pela passagem à frente da Venezuela. Em campo, não faltam talentos ofensivos. Victor Osimhen é a grande referência, melhor africano da última temporada. Ao seu lado, Samuel Chukwueze, Ademola Lookman, Victor Boniface, Kelechi Iheanacho, Umar Sadiq e Terem Moffi são outras alternativas a uma linha de frente excepcional. O problema está atrás, com figuras como Wilfred Ndidi e Calvin Bassey sobrecarregadas. A ameaça principal no Grupo C é a África do Sul, dirigida pelo experiente Hugo Broos, campeão da CAN 2017 à frente de Camarões. Os Bafana Bafana não jogam a Copa do Mundo desde 2010, mas saíram com erros de arbitragem graves diante de Gana nas últimas Eliminatórias. O elenco atual se centra na forte liga local e o Mamelodi Sundowns é uma potência do continente. Lyle Foster e Lebo Mothiba são raros nomes de relevo na Europa, com menção também a Percy Tau como protagonista do Al Ahly.

Aboubakar comemora o gol contra o Brasil (Clive Brunskill/Getty Images)

Camarões x Cabo Verde, Grupo D

Camarões não possui mais aquele elenco incontestável de outros tempos, mas ainda é uma seleção para, teoricamente, se classificar sem problemas. No entanto, a federação atravessa uma bagunça, com acusações graves de manipulação de resultados contra o presidente Samuel Eto’o e um trabalho fraco do técnico Rigobert Song – curiosamente, duas lendas do passado. Em campo, ao menos, há jogadores para dar a volta por cima. A espinha dorsal é bem clara com André Onana, Jean-Charles Castelletto, André-Frank Zambo Anguissa e Vincent Aboubakar. Há outras boas peças que complementam o time, com destaque a garotos em ascensão. Carlos Baleba, Frank Magri e Faris Moumbagna encabeçam a nova geração. O desafio é Cabo Verde, uma seleção que desponta na Copa Africana e busca um lugar ao sol nas Eliminatórias. Nomes tarimbados continuam por lá, como Vózinha, Jamiro Monteiro, Ryan Mendes e Garry Rodrigues. A empolgação fica pela onda de jogadores que nasceram em Portugal e recentemente aceitaram atuar pelos Tubarões Azuis, como o goleiro Bruno Varela e o atacante Bebé. O técnico Bubista é outro há tempos na casamata. Angola também está no grupo, mas chama menos atenção, mesmo com jogadores talentosos como M’Bala Nzola e Zito Luvumbo aparecendo bem na Itália.

Hakimi comemora (Elsa/Getty Images)

Marrocos x Zâmbia, Grupo E

Marrocos foi a sensação da Copa do Mundo e é a seleção para se assistir nessas Eliminatórias. Walid Regragui continua no comando dos Leões do Atlas, podendo desenvolver um trabalho mais longo após assumir às vésperas do Mundial. Os homens de confiança permanecem presentes: Bono, Romain Saïss, Nayef Aguerd, Achraf Hakimi, Noussair Mazraoui, Sofyan Amrabat, Azzedine Ounahi, Hakim Ziyech e Youssef En-Nesyri estão na última lista de convocados. Dá até para dizer que o time ganhou mais recursos, com jogadores que não disputaram a Copa por lesão e também alguns garotos chamados recentemente, como Sofiane Diop e Amine Adli. Os marroquinos têm um 11 inicial de primeira e boa rotação também, sobretudo no setor ofensivo. A missão dura de tentar peitar os favoritos é de Zâmbia, que voltará à CAN depois de nove anos de ausência e busca sua estreia em Copas do Mundo. O elenco dos Chipolopolo passa longe da constelação dos concorrentes, apesar da presença de Patson Daka no ataque. Quem consegue alavancar a equipe é Avram Grant, um treinador que disputou até final de Champions e oferece muita experiência.

Haller, de Costa do Marfim

Costa do Marfim x Gâmbia, Grupo F

A Costa do Marfim não disputou as duas últimas Copas do Mundo e sequer foi à fase final das Eliminatórias em 2022, superada por Camarões em seu grupo. Os Elefantes estão em dívida, mas contam com qualidade para uma guinada. Há um bom elenco, com equilíbrio. A defesa reúne Odilon Kossounou, Serge Aurier, Willy Boly, Evan Ndicka e Ousmane Diomande entre seus bons nomes. O meio-campo tem o luxo de Franck Kessié, Seko Fofana e Ibrahim Sangaré. Mais à frente, auxiliam o ataque Jérémie Boga, Simon Adingra, Christian Kouamé, Wilfried Zaha e Sébastien Haller. Os marfinenses não devem em nada, quando comparados com outros times que disputaram o Mundial. O concorrente do Pote 2 é o Gabão, mas que parece em fim de ciclo mesmo com talentos como Pierre-Emerick Aubameyang, Mario Lemina e Denis Bouanga. Gâmbia vem do Pote 4 e merece mais atenção, pelo estirão que vem vivendo, incluindo um ótimo desempenho na CAN 2022. Tom Saintfiet reúne bons jogadores especialmente no ataque. A linha de frente dos Escorpiões dará trabalho com Musa Barrow, Ebrima Colley, Muhammed Badamosi, Assan Ceesay e Yankuba Minteh. Mais atrás, Omar Colley segura as pontas. É um time que geralmente caía cedo em Eliminatórias, mas agora pode incomodar.

Argélia x Guiné, Grupo G

A Argélia foi a ausência mais sentida da última Copa do Mundo, até pelo nível que apresentou em boa parte das Eliminatórias. Campeão da CAN 2019, o técnico Djamel Belmadi permanece nas Raposas do Deserto, mesmo com decepções recentes. E a equipe ainda tem muitos valores para sonhar com o Mundial de 2026. É um elenco experimentado nas grandes ligas, com Aïssa Mandi, Ramy Bensebaini, Sofiane Feghouli, Riyad Mahrez, Saïd Benrahma e Islam Slimani entre as lideranças. Também causa impacto o chamado de atletas que trocaram de seleção, em especial Houssem Aouar e Amine Gouiri, antigos nomes da França na base. E isso sem esquecer garotos talentosos como Farès Chaïbi e Badredine Bouanani, que viram opções. A ameaça aos argelinos é respeitável, olhando para Guiné. Os Elefantes possuem Serhou Guirassy em estado de graça no ataque, por tudo o que faz com a camisa do Stuttgart na Bundesliga. Outros jogadores também podem dar trabalho, como Naby Keita, Ilaix Moriba, José Kanté e François Kamano. Olho ainda em Moçambique, que chega em alta depois de se classificar à Copa Africana depois de 14 anos de ausência. Reinildo Mandava é a estrela na zaga, apesar dos problemas físicos recentes.

Aïssa Laïdouni (Clive Mason/Getty Images/One Football)

Tunísia x Guiné Equatorial, Grupo H

A Tunísia é uma seleção habituada à Copa do Mundo, mas que tantas vezes não empolga. No Mundial de 2022, pelo contrário, entregou uma boa campanha na fase de grupos e até derrotou a França. O técnico Jalel Kadri segue respaldado à frente das Águias de Cartago e tenta extrair mais do time em seu primeiro ciclo completo. Ainda não é um elenco que chama tanta atenção por seus nomes, mesmo com bons jogadores como Ali Maâloul, Aïssa Laïdouni, Ellyes Skhiri e Youssef Msakni. O diferencial costuma ser o conjunto, além da capacidade competitiva que se repete nas Eliminatórias. Quem tenta aprontar é Guiné Equatorial, que cresceu desde que o técnico Juan Micha foi promovido em 2021. Não é um time que possui grande histórico em Eliminatórias, mas se acostumou aos mata-matas da CAN desde a última década. Auxilia a presença de muitos jogadores na Europa, sobretudo na Espanha, como Jesús Owono, Saúl Coco, Carlos Akapo, José Machín e o capitão Emilio Nsue.

Mali x Gana, Grupo I

Mali é a única cabeça de chave dessas Eliminatórias que nunca disputou uma Copa do Mundo. Os motivos para acreditar numa classificação inédita das Águias são compreensíveis, como um time de campanhas consistentes na CAN e que chegou à fase final das últimas Eliminatórias, batido pela Tunísia. O elenco é muito qualificado, a começar por Hamari Traoré capitaneando a defesa. O meio-campo é um dos melhores do continente com Amadou Haidara, Diadie Samassékou, Yves Bissouma, Aliou Dieng, Mohamed Camara, El Bilal Touré e Cheick Doucouré. E o ataque ainda reúne Adama Malouda Traoré, Sékou Koïta e Moussa Djenepo entre as principais opções. É time para ter ambição. A confiança só não é maior porque o sorteio guardou o mais renomado adversário do Pote 2, Gana. As Estrelas Negras vêm de um ciclo turbulento, mas em que pelo menos disputaram a última Copa do Mundo. Chegou um ótimo técnico, Chris Hughton, irlandês de ascendência ganesa que dirigiu diversos times de Premier League. Já o elenco mescla experiência e juventude. Alexander Djiku, Daniel Amartey, Iñaki Williams e Thomas Partey puxam a lista de mais rodados. Entre os mais novos, Mohammed Kudus, Osman Bukari, Ernest Nuamah e Kamaldeen Sulemana são algumas das esperanças.

* Como extra, vale conferir a análise feita por Luis Fernando Filho sobre cada um dos grupos das Eliminatórias Africanas da Copa de 2026, no imperdível África Mamba. Fica a sugestão para também seguir o canal no YouTube.

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