“Tenho dois amigos presos pela polícia. Só porque estavam a lavar carros perto dos hotéis. Só saem segunda”, diz à Lusa Camis, a dias de completar 18 anos. Perto do hotel Pestana, onde vão ficar muitos dos governantes convidados, Camis sabe que corre risco, mas compensa, porque “os carros dos estrangeiros pagam melhor”.
A cidade de São Tomé está a receber os representantes dos países da CPLP e há uma sensação de expectativa, mais visível pelos trabalhos de limpeza.
Hoje, pelas 09:00 locais (menos uma que em Lisboa), varredores limpavam as ruas junto ao Palácio dos Congressos, que vai acolher a cimeira no domingo.
Na praça Yon Gato, perto do Tribunal de Contas, letras típicas de uma qualquer cidade turística europeia, onde se lê “I Love STP” com as cores do país, estavam hoje à tarde a ser colocadas.
“Não são permitidas fotografias, só amanhã” na inauguração, respondeu um dos zelosos funcionários enquanto retirava as proteções de plástico das letras, que contrastam com a degradação do resto da praça, onde está uma rulote de comida com sinais de desgaste dos anos, em consonância com os edifícios de traça colonial em redor, de cor desmaiada e pouca manutenção.
O grupo de sete funcionários, com a vigilância de outros cinco no passeio, foi eficaz na limpeza das letras e cobriu o novo ex-líbris da cidade com papel de celofane, preso com fita-cola, pronto para ser inaugurado no dia em que vai decorrer o Conselho de Ministros da CPLP.
Nas ruas, quase não se vê gente a pedir, ao contrário do habitual. “Foram expulsos ou presos”, diz Johnny, um motoqueiro que faz a vida nas estradas da cidade.
“Há uma cimeira, não é? É por isso”, pergunta à Lusa e responde na mesma afirmação.
Mas nem tudo é mau. “Hoje São Tomé tem menos ondas”, fazendo o sinal com as mãos, acrescenta, entre sorrisos, num comentário ao facto de os serviços da autarquia e do governo terem alcatroado as zonas mais próximas dos hotéis onde vão decorrer os encontros e junto da Assembleia Nacional.
“Devia haver uma cimeira dessas de cinco em cinco anos, pelo menos”, diz Johnny, sentado no seu veículo importado da China na praça de moto-taxis do mercado de São Tomé.
Aí, entre a venda de peixe em bacias no chão ou de aguardente de cana em garrafões de água, não há grandes mudanças por causa da cimeira.
“Isto é lá para os políticos, não para nós”, responde o vizinho de Johnny, vestido com uma t-shirt de Cristiano Ronaldo, no Al-Nassr. No domingo, chegam vários chefes de Estado e de governo, entre os quais o brasileiro Lula da Silva, e os portugueses António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa, mas isso não o entusiasma.
“Ainda se fosse o CR7. Agora esses?”, sorri.
Por toda a cidade não são ainda evidentes sinais da cimeira. Mas na sede da companhia estatal de comunicações há um grande letreiro onde está escrito “Bem vindos à XIV Conferência de chefes de Estado e de Governo da CPLP. Juventude e Sustentabilidade. Educar, Inovar e Preservar”.
“É importante que estas coisas aconteçam para que se lembrem de nós e nos ajudem”, insiste Camis, enquanto tenta abordar mais um cliente perto de um dos principais hotéis da capital são-tomense.
A CPLP, que integra Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, realiza a 14.ª conferência de chefes de Estado e de Governo, em São Tomé e Príncipe, no próximo domingo, sob o lema “Juventude e Sustentabilidade”.
Lusa
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